Arte: entre o real e o imaginário

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  Quando entrei no Museu Metropolitano de Arte de Nova York pela primeira vez, deparei-me com um quadro moderno, uma colagem de objetos encontrados num rio: pedaços de pneu, uma tira de uma rede velha, garrafas. Em outras palavras, um quadro montado com lixo. Então, uma pergunta me veio à mente: afinal, o que é arte?
   Chris Ofili criou uma polêmica em Nova York em 1999 quando colocou em exposição um de seus quadros, chamado A Sagrada Virgem Maria, onde mostrava a Nossa Senhora negra rodeada de escrementos de elefantes e de imagens de close-up da genitalia feminina, tiradas de revistas pornográficas, formando pequenos querubins. O prefeito de Nova York da época, Rudolph Giuliani, processou o Museu de Arte de Brooklyn por expôr o quadro. Giuliani, que é católico, alegou que a obra era ofensiva e doentia. Católicos protestaram na frente do museu, mas no final, o museu ganhou o direito de manter sua exibição. E me pergunto: existe um limite para a arte?
   Casos controvertidos também acontecem no Brasil. A 29ª Bienal de Artes de São Paulo, que ocorreu de setembro a dezembro de 2010, teve seus momentos polêmicos. O artista brasileiro Gil Vicente expôs uma série de desenhos em que ele retratava a si mesmo matando personalidades famosas, como o presidente Lula, o ex-presidente F. H. Cardoso, o Papa Bento XVI, entre outros. Houve também um processo contra o artista, onde se alegou que ele estaria fazendo apologia ao crime. Gil Vicente se defendeu dizendo que sua obra era um protesto motivado pelo seu desencanto com a realidade atual. De qualquer forma, sua obra me pareceu retratar com descaso às figuras de autoridade, além de serem bastante perturbadoras.
   Os católicos de Nova York ficaram furiosos, outra vez, com uma outra obra de arte, no mínimo estranha: uma escultura de Jesus na cruz, nú, feita de chocolate, e de tamanho natural. Essa peça, intitulada “Meu Doce Senhor”, foi criada por um artista canadense chamado Cosimo Cavallaro, que é famoso por fazer arte com comida. Essa exibição foi cancelada. Então, me pergunto: deve existir um limite para a expressão artística?
   Talvez a exibição mais intrigante que já vi foi uma realizada pelo museu MoMA PS1 de Nova York em 2006 chamada Into me/Out of me, que pode ser traduzido com ‘dentro de mim/fora de mim’. A exibição trouxe uma série de fotos, imagens, estátuas, vídeos, e instalações em que o foco era a sexualidade e suas diversas formas de manifestação, o que incluía, por exemplo, a violência e a exploração do corpo.
   Nós, como admiradores da arte, podemos optar por prestigiar ou não prestigiar certas exibições. Mas, seria correto estabelecer limites para a o processo criativo? Talvez seja esta uma das funções da arte, a de provocar desequilíbrios, seja pela inspiração, beleza, repulsa, revolta, ou choque. A arte tem essa capacidade de mostrar coisas inimagináveis, e isso, muitas vezes, nos assusta.

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Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona (USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela mesma universidade.   [email protected]

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