Deus é bom ou seria boa?

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  Seria Deus masculino? Se nos basearmos no gênero expresso na Bíblia, tudo indica que Deus é, na verdade, do gênero masculino. Referimo-nos a Deus como Ele e usamos a expressão Pai Nosso. Seria correto, então, interpretar, que de alguma forma, o masculino está mais próximo de Deus que o feminino?
   A discussão do gênero na linguagem é um assunto delicado e polêmico. Em inglês, por exemplo, procura-se usar gênero neutro, evitando uma linguagem sexista (por exemplo, ao invés de dizer ele, prefere-se o indivíduo; ao invés de homens trabalhando, usa-se pessoas trabalhando).
   A ideia é que, usar uma linguagem masculina reinforça a presença do gênero masculino, implicando na sua superioridade e tornando o feminino  invisível. Assim, ao invés de dizer, por exemplo, todos os homens têm direitos iguais, usa-se a linguagem neutra todas as pessoas têm direitos iguais.
   O fato é que, quando usamos o gênero feminino numa frase, ele é marcado. Quando dizemos, por exemplo, o trabalhador brasileiro ganha pouco, temos a tendência de pensar no trabalhador em geral, que engloba todas as pessoas que trabalham. Mas, se eu digo, a trabalhadora brasileira ganha pouco, não é possível incluir o trabalhador masculino porque o gênero feminino está marcado. Uma mulher pode dizer obrigado, mas um homem não pode dizer obrigada. Usar o gênero feminino marca a frase, mas também, dá visibilidade à mulher.
    Se nós temos a preocupação de usar uma linguagem que seja menos sexista e mais neutra, por que não fazer o mesmo com a linguagem usada na Bíblia? Como você se sentiria se, ao invés de orarmos Pai Nosso que estás no céu, disséssmos Pai e Mãe que estão no céu?
   Na verdade, essa Bíblia já existe! A chamada Nova Versão Internacional (NIV) é uma Bíblia da Igreja Batista. Nessa versão, por exemplo, Deus não criou o homem, mas sim, a humanidade. O problema é que nem todos os batistas aprovaram as novas mudanças. O apagamento das especificidades dos gêneros, mudando seu aspecto original, desagradou as Igrejas Batistas do sul dos Estados Unidos, que, formalmente, rejeitaram essa versão.
   A Igreja Católica também tem as suas controvérsias em relação à linguagem da Bíblia. Uma freira e professora universitária de Nova York chamada Elizabeth A. Johnson escreveu um livro com propostas radicais, como orações que sejam mais sensíveis quanto a linguagem e que passem a usar o gênero neutro.
    A Irmã Elizabeth, com 69 anos, também reivindica uma presença mais marcante da mulher em cargos de autoridade na Igreja. Muito trabalho para a Irmã Elizabeth, principalmente depois que a Igreja Católica reafirmou, no ano passado, que as mulheres não podem ser padres.
   Evidentemente, o uso de uma linguagem neutra não garante que a Igreja, ou a sociedade, irá deixar de ser discriminatória. Por outro lado, a linguagem que usamos não é ingênua. Ela revela conceitos e comportamentos sociais que, às vezes, nem percebemos. A mudança da maneira de falar pode ajudar as pessoas a tomarem consciência de certas atitudes preconceituosas, e isso já é um grande começo.

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   Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona (USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela mesma universidade.   [email protected]

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