Editorial | Sem palco

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Araxá é riquíssima culturalmente, porém carece de gestores municipais que também priorizem não só a memória como o presente e o que de fato está sendo legado às próximas gerações. A cultura não é estática e nem se compõe de isoladas ações, precisa ser lembrada e construída dia a dia. Para a evolução de um povo não pode haver esquecimento, desconstrução, omissão e desvalorização cultural.  

A singularidade do povo araxaense é ameaçada a cada momento em que o patrimônio histórico é destruído diante da falta de uma efetiva política pública para a sua proteção e conservação. Pelo contrário, a prefeitura tem sido omissa à falta de um arquivo público municipal, à irrelevância do Setor de Pesquisa e Publicações da Fundação Cultural Calmon Barreto (FCCB) até a falta de acesso aos palcos pelos artistas que produzem espetáculos abertos sem cobrança de ingressos. Aliás, a cultura que circula dentro de um próprio grupo e ambiente torna-se elitista e não promove a necessária interação popular. A impessoalidade também não se impõe na medida em que não há necessária transparência na destinação de recursos via leis de incentivo, pois comissão julgadora sequer informava aos interessados porque determinado projeto foi recusado.

O conceito de cultura é amplo e não pode ser resumido a chamar de educação patrimonial um despretensioso e isolado projeto que atinge um universo muito pequeno da população com conteúdo social pouco impactante. Enquanto por outro lado, a prefeitura dá mau exemplo ao construir banheiros públicos ao lado do teatro municipal, deseducando a população quanto à importância da história dos bens públicos que não podem ser descaracterizados dessa forma ainda mais no Centro Histórico da cidade. Mesmo que a decisão de atender a população com a construção dos banheiros nesse local tenha sido do prefeito municipal, caberia a todos os seus órgãos técnicos ponderar sobre os impactos negativos dessa decisão. A própria FCCB, a Procuradoria Jurídica, o Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável de Araxá (IPSA), a Secretaria Municipal de Obras, o Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) tinham o dever de posicionar-se porque essa construção pode tornar-se símbolo do descaso com o patrimônio público mesmo que não tenha sido a intenção. 

O despejo sem aviso prévio da Academia Araxaense de Letras (ALL) de sua sede na Casa do Poeta (Cine Teatro Brasil) concedida pelo ex-prefeito Olavo Drummond há mais de 20 anos no primeiro mês da atual gestão foi como um sinal de alerta. A Ouvidoria Municipal se instalou de forma improvisada no espaço que tinha sido recém-reformado pelos acadêmicos e pouco tempo depois foi transferida para um local bem longe do Centro, no bairro Silvéria, desmontando qualquer argumentação. Dois anos depois, o episódio foi superado pela academia, mas a precária situação do histórico prédio do Clube Brasil continua sem definição.

Outra questão é a necessária interação entre cultura e turismo que não se desassociam devendo trabalhar em conjunto, o que tem sido difícil até por razões administrativas porque a fundação é uma autarquia. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo é uma tendência em municípios turísticos como Araxá, mas onde foi poucas vezes cogitada porque desencadeia uma profunda transformação na condução dessas áreas inclusive em termos administrativos e orçamentários. 

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