A administração municipal encerrou o programa Limpando e Produzindo há cerca de um ano, sob a alegação de que seria substituído por outro mais eficiente, o Cinturão Verde. Depois desse tempo, a realidade mostra que os lotes urbanos antes limpos através da produção de horitfrutis e plantas medicinais agora estão sujos. O problema já incomoda a população do entorno que deixou de ter produtos orgânicos para comprar e passou a conviver com o abandono dos terrenos. É o caso do lote situado na rua Francisco dos Santos, Centro, que por dez anos foi cultivado por João Lúcio Cipriano, de 44 anos.
Depois de ter que se retirar do bairro Pão de Açúcar, onde arrendava uma área para o cultivo de hortifrutis, porque foi poluída pelo constante vazamento de esgoto da tubulação da Copasa, João Lúcio conseguiu ingressar no programa Limpando e Produzindo lançado à época pela Prefeitura de Araxá, em 2001.
“Há uns dez anos, o Daniel da prefeitura arrumou o lote dentro do programa e, neste tempo eu fiquei lá, fornecendo o que eu podia, tanto às pessoas que precisavam de ajuda, como ajudando o próximo com verdura boa e barata sem nenhum veneno. Ali no começo eu tirava bem, a prefeitura dava muda, esterco, água, não regulava a gente em nada, dava o que podia, era muito bom”, lembra João.
Política
Ele diz que na campanha política de 2008, o então candidato a prefeito Jeová Moreira da Costa lhe disse que iria incrementar o programa. “Veio o Dr. Jeová e disse que também ia ajudar nós e o que ele fez foi acabar com as hortas”, afirma. João acrescenta que apoiou Jeová politicamente, mas somente o encontrou depois de quatro meses da sua eleição como prefeito. “Eu perguntei: – Doutor, como vai ficar nossas hortas? Ele disse: ‘Eu vou acabar com isso tudo, vocês combinam e tocam por conta de vocês’. De lá, ele me deu uma carona até o Miguelinho porque eu já ia para outra fazenda e não vi ele mais”, conta o horticultor.
Ele afirma que com o fim do programa Limpando e Produzindo, a água que utilizava para aguar as plantas foi cortada pela prefeitura e teve que parar a produção que tinha na rua Francisco dos Santos.
Cinturão Verde
“Então, minha horta virou mato puro. Eu sou da parte política do doutor Jeová, filiado ao partido dele (PDT), mas o prefeito não tá dando valor ao trabalhador, não. Ele precisa ter mais respeito”, afirma João. Segundo ele, chegou a ir à área do programa Cinturão Verde, mas a considerou inadequada para o plantio.
“Eu conheço gente do Cinturão Verde, foram vinte e poucas pessoas para lá e há pouco tempo fiquei sabendo que só está com seis. A área para mim também não serve, porque é perigoso contaminação ali. É na beira do córrego que desce do bairro São Geraldo”, afirma.
Parceria
João encontrou um parceiro, o aposentado Joaquim Martins Balbino, de 67 anos, e retomou a produção de hortifrutis por conta própria. “Eu enfrentei como eu sei, trabalhar, tocando a vida. Eu encontrei um amigo, o senhor Joaquim, e nós estamos trabalhando junto, só que a gente precisa ter segurança, porque é difícil”, conta. João cuida das hortaliças plantadas em um terreno cedido pelo senhor Eliazar (do S.O.S.) situado na av. Amazonas, bairro São Geraldo, ao lado da Padaria Forno de Minas, junto com Joaquim que administra o negócio. “O senhor Eliazar arrumou o terreno, não amola com nada, nóis bancou o resto e tá tocando já faz um ano”, diz João.
Joaquim também conta a sua história de horticultor, iniciada em um pequeno terreno situado na rua Santa Catarina, no bairro São Geraldo. “Foi lá que eu comecei, mas quando a dona resolveu construir, eu passei para um terreno debaixo que é de um amigo meu, o Plínio”, afirma. Segundo ele, mesmo com a parceria com João, o antigo terreno continua a ser cultivado. “Eu participei do Limpando e Produzindo e não deu certo. Eu achei que a administração municipal naquilo ali tava muito ruim e preferi tocar por conta própria”, afirma Joaquim.
Ele acrescenta que um dia resolveu conhecer a horta do João, na rua Francisco dos Santos, região central. “Nós passamos a frequentar um a horta do outro, a ser amigo. Mas ele não teve mais a horta, porque cortaram a água dele e, sem, não tem jeito de plantar. Aqui, nós trabalhamos em conjunto, por conta nossa, conseguimos o lote do senhor Eliazar por determinado tempo. Segundo ele, enquanto não tiver precisando do terreno vai nos ajudar”, diz Joaquim.
Orgânicos
João Lúcio e Joaquim só vendem hortifrutis produzidos organicamente, sem qualquer agrotóxico. Eles fazem questão que seja assim, dizendo com orgulho que a horta é modelo. “A freguesia é boa, graças a Deus, e a produção aqui não existe nada de agrotóxico. Eu acho que veneno, basta o que já comemos em todas outras verduras e qualquer tipo de alimento. Porque hoje em dia, qualquer tipo de alimento tem veneno. Então, eu vou plantar usando veneno? De maneira nenhuma.”, afirma Joaquim.
A horta que mantêm na av. Amazonas produz alface, almeirão, couve, chicória, rúcula e muitos outros tipos de hortifrutis. “Eu uso produto natural, fumo, detergente, essas coisas assim, para evitar o veneno. O negócio tá bom, o que falta é a ajuda de uma pessoa mais forte, porque a gente é muito fraco, para fornecer para nós pelo menos o esterco, algumas mudas. Mas infelizmente, não temos nada, o que tinha o doutor Jeová cortou”, afirma Joaquim.