Minha filha, uma estranha

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   Ela e sua filha nunca se deram muito bem. Tinham um relacionamento difícil, mas viviam na mesma casa e eram, apesar de tudo, uma família. Quando sua filha ficou grávida, as coisas pioraram entre elas. Quando seu neto fez cinco anos, sua filha saiu de casa, foi morar com um namorado em outra cidade e deixou o filhinho para a mãe criar. Depois deste dia, sua filha nunca mais conversou com ela. Seu neto tem agora 21 anos. Essa foi a história que uma senhora contou, entre lágrimas, como uma forma de desabafo.
   Muito se fala sobre as consequências do comportamento dos pais na vida dos filhos; muito se culpa os pais pelos problemas dos filhos. Mas, e o outro lado? E o sofrimento que os pais enfrentam quando seus filhos os abandonam?
   De acordo com Joshua Coleman, um psicólogo da cidade americana de São Francisco, o número de filhos que cortam relações com seus pais vem crescendo. O motivo, longe de ser por violência ou abuso, é relativamente menos sério, como conflitos com relação a dinheiro, namorado, divórcio ou segundo casamento de um dos pais. São histórias que envolvem pais responsáveis e bons, que fizeram seus erros, mas tudo dentro de um limite normal.
   O distanciamento dos filhos é uma dor constante para os pais. Alguns procuram ajuda profissional, outros entram em depressão, e alguns até contemplam o suicídio, de acordo com Dr. Coleman.
   Ao perguntar à senhora do início do artigo qual foi o motivo da separação, ela não conseguiu dizer. Já não lembrava mais. Tinham sido tantas as discórdias e desentendimentos entre ela e sua filha, que ela não conseguia apontar a gota d’água que levou sua filha a sair definitivamente de casa.
   Quem vive esse tipo de problema geralmente guarda a história consigo mesmo. Dr. Coleman chama de “epidemia do silêncio”. Os pais, cujos filhos os abandonam, guardam silêncio sobre o fato porque, muitas vezes, eles têm  vergonha e constrangimento em admitir que seus filhos cortaram relações com eles.
   Como resolver esse problema? Dr. Coleman argumenta que os pais desistem muito rápido. Que eles devem insistir, por exemplo, enviando cartas ou e-mails, telefonando continuamente, mesmo se forem rejeitados ou não tiverem respostas. É também importante estar preparado para se responsabilizar pelos seus erros, admitir que errou, mesmo que, na época, pareceu ser a coisa certa a fazer. É necessário que os filhos saibam que os pais os querem de volta, que estão abertos a ouvir e a conversar.
   É isso o que eu diria a esta senhora: não desista! Por que deixar passar mais um ano, um mês, um dia? Sua filha pode estar justamente esperando que você dê um passo na sua direção. Enxugue as lágrimas e dê a você mesma uma oportunidade para ser feliz.

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Denise M. Osborne é araxaense, doutoranda pela Universidade do Arizona (USA) em aquisição de segunda língua, e professora de português pela mesma universidade. [email protected]

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