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EDITORIAL - Repetida política
10/03/2014, às 09:31:08

 

A política reinante tem feito muito mal para Araxá num ciclo que parece interminável, onde os interesses político-partidários estão acima dos da cidade. Essa busca incessante pelo poder chega ao ponto de emperrar o desenvolvimento do município, denegrindo a sua imagem. A conveniência faz com que ora os mesmos políticos estejam juntos, ora em posições opostas, criando e abandonando as desavenças que acabam herdadas pela população. A falta de perspectivas, inclusive do surgimento de lideranças de fato novas, faz parte desse contexto. É como se uma corda estivesse sempre esticada, com uns puxando de um lado, outros de outro, sem ninguém sair do lugar.

Há mais de trinta anos, o deputado federal Aracely de Paula foi prefeito nomeado por dois mandatos e depois eleito para mais um com a redemocratização do país. Ao deixar a prefeitura, Aracely trabalhou politicamente para a eleição do seu então vice-prefeito, Waldir Benevides de Ávila, que ganhou o pleito em 1988. Dois anos depois, em 1990, Waldir apoiou a eleição de Aracely para deputado federal e da sua vice-prefeita, Elisa Alves, para deputada estadual, eleitos com os votos da grande maioria do eleitorado local. Em 1992, o então vereador Antônio Leonardo Lemos Oliveira que tinha sido chefe de Gabinete do ex-prefeito Aracely, mas não contou com o seu apoio como candidato a deputado estadual, introduziu o médico Jeová Moreira na política local como candidato a prefeito, compondo a chapa com ele como vice-prefeito. Eles foram eleitos, no entanto, um ano depois houve o racha político entre os dois em pleno mandato. Até hoje, os dois têm sido oponentes políticos.   

Jeová ao término do seu mandato decide apoiar a candidatura a prefeito de Olavo Drummond que resolveu voltar para a terra natal depois de ascender-se até o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União. No entanto, Olavo que era do PSDB surpreendentemente escolheu um candidato a vice-prefeito do PT, preterindo os tradicionais grupos políticos de Araxá, inclusive ficando à parte da acirrada disputa nacional entre os dois partidos. A estratégia deu certo, mas Olavo enfrentou uma enorme resistência política no governo, a começar pela Câmara Municipal que chegou a zerar a suplementação orçamentária. Nas urnas, Olavo tinha derrotado Antônio Leonardo como candidato a prefeito e Fausto de Ávila como vice. A acirrada política que se estabeleceu então, a exemplo da sentida hoje, criou esse mesmo clima de desconstrução em detrimento do município.

O troco nas urnas veio em 2000, quando Olavo deixou a prefeitura e a vontade de ocupar um cargo eletivo. O deputado Aracely indicou a filha Giovana de Paula Guimarães como candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Jeová. Do outro lado da disputa, Antônio Leonardo candidatou-se a prefeito, tendo como candidato a vice-prefeito o médico Abdalla Elias Neto. Eles foram eleitos, Aracely continuou sendo reeleito a deputado federal e Jeová afastou-se momentaneamente da política. Antônio Leonardo com habilidade conseguiu reverter o pesado clima político que reinava na cidade e governou com a unanimidade na Câmara, excelente trânsito em todos os segmentos da cidade e, consequentemente, o explícito apoio do povo. Ele foi candidato à reeleição em 2004, tendo Miguel Jr. como candidato a vice-prefeito, concorrendo apenas contra Paulo Silva que nunca tinha disputado uma eleição e cuja candidatura foi uma incógnita.

Apesar da grande sustentação política obtida no município, Antônio Leonardo não governou com o apoio de Aracely. Pelo contrário, senão faziam oposição declarada, a falta de sintonia entre os dois era evidente nos bastidores. Araxá continuava sem representatividade na Assembleia Legislativa, com a pulverização para o cargo a cada pleito, apesar de César Mesquita ter ocupado a suplência por oito meses neste período. Depois de oito anos no governo, Antônio Leonardo dividiu o próprio grupo político ao incentivar sete pré-candidaturas a prefeito, com a promessa de apoiar aquele que mais se viabilizasse. Já perto do pleito de 2008, o vereador Bosco foi anunciado como o escolhido tendo como vice o também vereador e médico Wellington Gonçalves, mas havia arestas em todos os lados que não foram aparadas. Tanto que em 2008, o próprio vice dele, Miguel, foi candidato à reeleição para o cargo na chapa encabeçada por Jeová, com o apoio do deputado Aracely. Bosco conseguiu eleger-se deputado estadual em 2010, sem dúvida muito mais pelo próprio mérito, além da lembrança ainda quente da sua candidatura a prefeito.

Jeová venceu para cumprir o segundo mandato como prefeito a partir de 2009 e, em pouco tempo, mais uma vez já não estava mais afinado com o vice. Mesmo assim, Miguel deteve duas importantes pastas na administração municipal até 2012, as de Desenvolvimento Humano e a Fundação Cultural Calmon Barreto. Depois de quase quatro anos sob ferrenha oposição ao ponto de tentarem cassar o seu mandato com a abertura de uma Comissão Processante pela Câmara, Jeová decidiu abrir mão da reeleição para o então companheiro nas duas últimas disputas municipais, o deputado Aracely. Ele foi até Brasília e disse a Aracely que não tentaria se reeleger, caso ele fosse o candidato a prefeito. Depois disso, Aracely procurou todas as lideranças políticas como pré-candidato a prefeito, tendo como trunfo a desistência de Jeová para ele. No entanto, Jeová acreditava que o deputado não faria esses contatos sem ele, até para que pudesse respaldar o seu grupo político. Ao se dar conta de que ele estava sendo isolado nas conversas políticas, Jeová decidiu disputar a reeleição e conseguiu buscar uma candidata a vice-prefeita do PSDB, Edna castro, neutralizando a participação direta do governador Antonio Anastasia na disputa em Araxá.

A vitória de Jeová fez redobrar as forças contrárias ao seu governo nesta gestão 2013/2016, pois deixou inconformado o grande grupo político que passou por cima das desavenças para forçar uma união na certeza de ganhar o pleito com Aracely, composto por 14 partidos políticos. Boa parte do grupo que apoiou a candidatura de Aracely a prefeito não estava do seu lado dois anos antes, quando ele foi candidato a deputado federal. Essa falta de liga foi uma das principais razões da derrota, o eleitor tem sim a sua memória, principalmente em relação aos pleitos municipais que lhe dizem diretamente respeito. Daí para a esfera judicial foi um pulo e a cidade volta a amargar um clima de insegurança, de descrédito, de muito fogo amigo na administração municipal. O que prejudica essencialmente a cidade, antes de qualquer político. Apesar de toda a potencialidade que a torna privilegiada, Araxá tem colhido muito menos do que poderia em função dos seus embates políticos que não se restringem ao período eleitoral e nem levam em conta o que a cidade tem perdido com essa retrógada política. Tanto é que se por um lado Araxá reconquistou o seu espaço na Assembleia Legislativa, por outro corre sério risco de não ter mais representatividade na Câmara Federal. É claro que Aracely já cogitava deixar o cargo, desde quando decidiu ser candidato a prefeito. Mas como não há nome na política local com perspectiva de ser eleito deputado federal por Araxá, pode ser que ele reconsidere e parta em busca do sétimo mandato.

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Clarim
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