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A imaturidade do povo brasileiro é tanta que o torna inoportuno, embora tenha um cabedal para transformar de fato a realidade em que vive. O país quis sediar a Copa do Mundo de 2014 desde 2006, portanto, há oito anos havia uma grande expectativa de que isto seria a motivação que faltava para virem os necessários investimentos na sua infraestrutura, especialmente a de transportes e turística. O Brasil não foi escolhido como muitos pensam, pelo contrário, foi o único país da América do Sul - para onde o evento foi designado ainda em 2003 - a candidatar-se a tal façanha. À época, havia a euforia do crescimento econômico refletido num PIB quase quatro vezes maior do que o atual, o Brasil era chamado de “a bola da vez”. Mas, com a crise econômica mundial que veio à tona no último trimestre de 2008, a realização da Copa no país passou para o segundo plano.
Daí pra frente, com o tempo cada vez mais exíguo prevaleceu o “jeitinho brasileiro”, com gastos extrapolados e apenas parte do previsto executado até a abertura do evento. Um ano antes, com a realização da Copa das Confederações em junho de 2013, essa situação acabou sendo exposta porque os gastos do governo com os eventos internacionais passaram para a pauta das manifestações populares iniciadas no final de 2012 em decorrência do aumento no preço do transporte coletivo e, a partir do Rio de Janeiro, ganhou as maiores cidades do país. Desde então, os gastos públicos com a Copa das Confederações e com a Copa do Mundo também passaram a ser alvo dos protestos que no ápice reuniram milhões de brasileiros nas ruas. Além do preço do transporte público diante dos gastos exorbitantes com os eventos esportivos, manifestavam-se contra a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção política, pedindo a criação de CPIs para verificar as despesas do governo e possíveis superfaturamentos. As vaias ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, e à presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações, uma semana depois culminaram com a apresentação de cinco pactos nacionais entre os três níveis do governo: transporte público, reforma política, combate à corrupção, saúde e educação. Em síntese, em resposta aos protestos, o governo brasileiro anunciou várias medidas e o Congresso Nacional votou uma agenda positiva.
Um ano depois, quase nada mudou no país em função dessa pauta e as eleições de 2014 acontecem em outubro próximo com tudo praticamente como dantes, na mesma conjuntura. Então, não mais os milhões de antes, mas alguns resolveram voltar com os protestos na iminência da realização da Copa do Mundo. Só que esse movimento foi perdendo a força com a sua apropriação pela política e a bandidagem. Além do mais, interessa a quem aumentar os prejuízos com a realização da Copa no país ao invés de amenizá-los movimentando a economia com os milhões de turistas que vieram assistir o evento e quiçá podem voltar se forem bem recebidos? Só mesmo a quem não tem nada a perder ou age em prol de interesses escusos, o que ainda é muito comum, infelizmente. Ao invés de partir para a quebradeira, o brasileiro deveria demonstrar nas urnas uma maturidade que ainda não existe, mas virá com o tempo.
Quanto aos gastos com a Copa, somam R$ 25,6 bilhões conforme balanço oficial do governo federal (o extraoficial já supera R$ 35 bilhões), sendo que apenas R$ 4,2 bilhões partiram da iniciativa privada. Mais de 83% dos gastos saíram dos cofres públicos, apesar do argumento de que boa parte retornará em função de empréstimos feitos via BNDES. Desse montante, 60,1% referem-se às obras de vias, transportes públicos e aeroportos; 27,7% à reforma e construção dos 12 estádios que sediam os jogos; 7,3% à segurança pública e 0,8% ao turismo. Esse montante equivale a 9% dos gastos anuais em educação e a 25% com a saúde, numa demonstração de que existe margem daqui pra frente para mais investimentos governamentais nestas áreas que são fundamentais para o país. Quanto a confundir política com futebol, não deve ser mera coincidência a realização de eleições nacionais em anos de Copa do Mundo, mas cabe ao povo brasileiro fazer essa diferenciação. Como neste ano a Copa acontece no Brasil, essa vinculação é mais forte. No entanto, hoje o resultado dessa combinação já não é tão promissor, mesmo se o país for campeão no campo.