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De geração em geração, velhos e surrados cadernos, passam de mãos em mãos, mantendo vivas e cada vez mais gostosas as verdadeiras raízes da gastronomia araxaense. Sem dúvida alguma, a velha e boa comida mineira tem em Araxá a sua melhor porção. Ao contrário do que muitos imaginam, não é só nas Minas que a gente se farta com os maravilhosos sabores da comida mineira. Muito além das Minas, existem as Gerais de tantos sabores inigualáveis, de tantos temperos deliciosos, de tanta fartura no prato e aquele gostinho de quero mais. Mineiramente, fazendo bem feito, respeitando suas tradições e, às vezes, ousando na criatividade, Araxá desenvolveu e perpetuou sua fama na excelência de seus pratos e na sua incontestável boa mesa. Por essas e outras, pode ser nomeada como a capital dos saberes e sabores da Comida Mineira do Grande Sertão das Gerais.
A história da gastronomia de Araxá das Gerais é tão antiga e tão importante quanto a desenvolvida durante o Ciclo do Ouro nas Minas. Para muitos, a simplicidade e o sabor característico da comida mineira é resultado do encontro das diferentes raças e culturas que souberam adaptar seus costumes alimentares com os recursos disponíveis para se comer bem. Tanto nas montanhas de tantas minas, quanto nos campos de altitude e no serrado do sertão, foram desenvolvidos e adaptados ao gosto regional os pratos típicos que fizeram a fama da comida mineira. Diferentes tipos de linguiça, o tutu, o feijão tropeiro e o torresmo, o frango com quiabo, a costelinha com ora pro nobis, o angu e a couve, o queijo, a pamonha, os doces, os bolos, as broas, os pães de queijo e tantos outros pratos originários de ingredientes do fundo de quintal.
A construção da gastronomia araxaense começou com os índios Arachás, do qual herdou o uso da mandioca, do milho, da caça e do pescado. Já os negros, agregaram novos valores ao se adaptarem à comida indígena na substituição de ingredientes e acréscimo de outros. Dos bandeirantes que seguiam para Goiás em busca do ouro e das riquezas do sertão e dos tropeiros foram agregadas novas técnicas e sabores, especialmente na elaboração de pratos mais secos, ou desidratados, para terem maior duração em suas longas viagens. Em razão dos bandeirantes e tropeiros esconderem suas bagagens de alimento em árvores e grutas para quando retornassem ao seu ponto de partida, o Triângulo Mineiro naquela época era conhecido como o “Sertão da Farinha Podre.” Através dos mascates e dos fazendeiros que visitavam ou se instalaram em Araxá a sua gastronomia recebeu novos ingredientes e se enriqueceu com novos sabores.
Com a chegada de imigrantes de diversas partes do mundo, que adotaram a região como seu novo lar, foi dado início a um processo de reconstrução da comida de Araxá com a inserção de receitas típicas provenientes da Itália, Espanha, Portugal, Turquia, Arábia e tantos outros países. Com a descoberta das propriedades medicinais das águas minerais de Araxá muitos turistas foram atraídos em busca de mais saúde para o corpo. Através dessa movimentação de visitantes de diversos estados do Brasil e do exterior nasceu um novo ciclo gastronômico em Araxá, principalmente após a construção do Grande Hotel. Chefs e cozinheiros contratados para a sua cozinha trouxeram em suas bagagens o requinte da comida europeia, adaptando com maestria suas receitas aos temperos e recursos disponíveis em Araxá, aproveitando bem os saberes e sabores regionais na construção de uma gastronomia de raízes e “terrois” ímpar.
O Festival Internacional de Cultura e Gastronomia de Araxá, que ocorrerá de 24 a 27 de julho no pátio da Fundação Cultural Calmon Barreto, foi desenvolvido para promover e evidenciar em primeiro plano a rica e reconhecida gastronomia do município. Ao mesmo tempo em que apresenta os maiores valores da cozinha araxaense, traz de fora, tanto do Brasil, quanto do exterior, chefs de grande expressão que trazem em suas bagagens novas técnicas e valores que contribuem ainda mais para o fortalecimento da gastronomia de Araxá. Sem dúvida, uma grande contribuição para o fortalecimento desse maravilhoso destino turístico gastronômico.
Armando de Angelis é consultor de marketing e um dos promotores do Festival Internacional de Cultura e Gastronomia de Araxá.