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Saúde é o contrário da doença. Estar saudável significa que as nossas funções orgânicas, físicas e mentais estão normais, o que primordialmente depende do esforço pessoal de se alimentar bem, praticar exercícios, viver equilibradamente, sem vícios e exageros. Uma série de cuidados que se tornam muito mais rigorosos quando alguém lida com alguma doença. Por uma questão cultural própria de uma sociedade consumista adepta aos maus hábitos e que vive sob pressão, além do aumento da expectativa de vida, o número de pessoas doentes tem sido crescente, ao ponto dos sistemas público e privado não darem mais conta de atender a demanda. Essa situação atingiu tal complexidade de solução, que manter a saúde e tratar a doença chega a parecer inatingível.
Mesmo sendo a saúde a primeira necessidade de qualquer um, porque sem ela ninguém consegue viver bem e pode tornar-se completamente improdutivo, muita gente só desperta para isto quando está doente. Então, imputa toda a sua revolta contra o sistema, sem sentir-se como o principal responsável pelo seu estado de sem saúde. O círculo vicioso do tratar a doença ao invés de prevenir-se com os bons hábitos contribui significativamente para a insatisfação da população com o atendimento em busca de saúde. Outro aspecto é a exploração política, com muita promessa em época eleitoral e, posteriormente, poucos e mal direcionados recursos para essa área tão fundamental e ainda a falta de visão para superar ou pelo menos não agravar a questão.
Outro problema é que com a universalização da saúde a partir da Constituição de 1988, o atendimento público que estava voltado para a classe de menor poder aquisitivo passou a ser um direito de todos, independentemente da renda. Porém, o sistema público não estava preparado para atender o particular que até então era a única opção para quem podia pagar. O atendimento pago praticamente subsidiava o assistencial, mas quando o acesso à saúde pública passou a ser para todos houve a explosão dessa procura face ao despreparo para absorver tanta gente, enquanto os profissionais passaram a depender mais da remuneração do Estado. E quanto mais se melhora o atendimento público, mais pessoas deixam o particular. É correr em função da demanda, pois se a rede pública passa a oferecer tal exame, a ter tal especialista, estrutura adequada e qualidade no atendimento, mais pessoas vão buscar esse tratamento sem ter que pagá-lo e, consequentemente, acaba ficando comprometido se a oferta não for ampliada proporcionalmente. Essa grande procura leva ao estrangulamento do bom atendimento, com a extensão do tempo de espera, quando não há a suspensão ou falta de determinado serviço, obrigando as pessoas a recorrerem à Justiça em função desse direito universal.
Exige-se uma reformulação de todo esse atendimento, já criada na teoria a partir do Sistema Único de Saúde. O que se preconiza é estender o atendimento básico voltado à prevenção através do Programa Saúde da Família (PSF) que deveria cobrir toda a população. Dessa porta de entrada, quando a doença foge da competência da clínica geral, o cidadão recebe o encaminhamento para o especialista e deveria ter ao seu dispor toda a estrutura necessária para diagnóstico e tratamento. A outra porta de entrada prevista nessa sistemática são os chamados atendimentos de urgência e emergência, onde os pacientes têm o mesmo encaminhamento para a média e alta complexidade.
Mas, tomando Araxá como exemplo, que apesar de deficitário oferece um atendimento na área muito melhor que a grande maioria dos municípios brasileiros, a prática desse processo é dificultada desde o atendimento básico, com a falta de equipes do Programa Saúde da Família para cobrir toda a população. Hoje, o município tem 14 equipes de PSF implantadas, cobrindo pouco mais de 50% da população, enquanto o ideal é 25. E não é simplesmente querer e ter o recurso para implantar uma equipe de PSF, porque a maior dificuldade é a falta do profissional médico. Tanto é que existem os Pacs (Programa de Agentes Comunitários da Saúde), como um primeiro passo para a formação de uma equipe de PSF, que conta também com enfermeiro e médico. Desse atendimento básico, tria-se a necessidade do especializado e, mais uma vez, o maior problema é a falta de médicos. Ao ponto de não se ter um profissional em todas as especialidades na rede pública ou quando se tem é em número insuficiente mediante a demanda, gerando uma grande espera para o atendimento que pode levar meses. Mas, esse não é um problema só da rede pública, porque mesmo para conseguir uma consulta por convênio ou particular dependendo do especialista é preciso agendar com até três meses de antecedência.
E a maioria da população ainda acha que é só construir hospitais, sem entender a essência do problema. Mais uma vez, pegando Araxá como exemplo, quando a UTI Neonatal estiver pronta terá que obter o credenciamento junto ao SUS e também para funcionar de fato dependerá da disponibilidade dos pediatras que estão se tornando raridade hoje em dia. Não há condições de se fazer neurocirurgias na cidade e, mesmo se houvesse, não bastaria apenas o profissional porque Araxá ainda não atende alta complexidade pelo SUS, cujos pacientes são encaminhados para outros centros de saúde referenciados, como Uberaba. O paciente que dá entrada no Pronto Atendimento Municipal (PAM), para ocupar um leito de hospital e assim ter o atendimento e os medicamentos necessários pelo SUS, precisa aguardar a vaga dentro do sistema. Enquanto não for liberada a vaga, esse paciente não pode tomar um comprimido sequer por conta do SUS.
É só uma noção da complexidade dessa área de difícil entendimento até mesmo para quem faz parte do processo. Por isso, é fundamental que a gestão municipal que tem caminhado apesar das constantes reclamações, algumas de fundo muito mais político, seja atuante onde pode interceder para melhorar esse atendimento, como a Unicentro inaugurada recentemente e que terá uma farmácia municipal em anexo. A oportunidade de avançar ainda mais surge com a vacância na Secretaria Municipal de Saúde que deveria sim ser ocupada por quem no mínimo já tem esse aprendizado sobre como tudo funciona. E também aproveitar para agilizar a mudança da sede da secretaria para as instalações definitivas no centro administrativo, porque desde 2012 funciona improvisadamente num galpão que não oferece condições adequadas de trabalho para o pessoal que atua nessa área de extrema importância.