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Araxá completa 149 anos como cidade no próximo dia 19, exemplificando uma história marcada por especiais características que a tornam diferenciada em termos de recursos naturais, cultura, qualidade de vida e boas perspectivas. Essa terra é atrativa desde os primórdios, seja para índios, negros, bandeirantes, imigrantes e para a própria população formada a partir de todos eles, heterogênea e com ares cosmopolitas que a levam a ser muito conhecida mundialmente. Com tudo isso, Araxá ainda usufrui do privilégio de poder crescer ordenadamente, sem que seja tão descaracterizada como a grande maioria das cidades brasileiras, apesar da necessidade premente de acertar a direção para continuar sendo “o melhor lugar para viver”.
Houve várias fases na história local que se conjugaram em três importantes vetores econômicos, sendo o turismo que foi muito mais forte no passado, a mineração que se expande desde o princípio e o agronegócio apesar da área original do município ter sido reduzida significativamente em função da construção do Grande Hotel. Mas, hoje até pela própria globalização, a cidade apresenta outros segmentos ascendentes, como o de comércio e serviços que envolvem especialmente a construção civil, a educação e a saúde. É todo um conjunto pujante que se interage marcando uma nova fase na história de Araxá, mas que poderia estar sendo muito mais e melhor aproveitada se não fosse o bairrismo exacerbado que tende ao preconceito e à reserva de mercado, certa inoperância e incompetência política, o descuido com os ambientes urbano e verde e com o patrimônio histórico e cultural. Questões importantíssimas que precisam ser revistas de forma a assegurar o que a cidade ainda hoje desfruta.
Araxá realmente não pode crescer desmesuradamente, o ideal é que fosse proporcionalmente a sua capacidade de atender as novas demandas. O que não tem ocorrido pelo menos nos últimos dez anos, porque apesar da população ter dado um salto além do previsto e hoje seguramente já ultrapassou os 100 mil habitantes, em termos de infraestrutura e autonomia a cidade tem ficado pra trás. O trânsito está a cada dia pior; a saúde ainda não alcançou o preconizado para a gestão básica e são poucas as opções de graduação especialmente públicas, sendo que tanto na saúde quanto na educação existe uma grande dependência em relação às superintendências regionais; as 17 áreas verdes com nascentes que existiam no perímetro urbano no início de 2000 estão reduzidas a umas seis; o saneamento básico, a iluminação das vias e o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos ainda deixam a desejar; os devidos uso e ocupação do solo carecem de lei igual para todos e fiscalização; a falta de conservação e manutenção dos equipamentos públicos, como ginásios, praças, centros comunitários etc. é outro problema que se agrava.
No caso de Araxá, não é possível colocar a culpa na falta de recursos, pois há muitos tanto públicos quanto privados. O que ocorre é que podem estar sendo mal empregados, nivelando por baixo, sustentando o comodismo e a ociosidade. Existe ainda a falta de conhecimento da realidade local e consequente planejamento adequado dos investimentos que devem ser aplicados com justeza e competência. Quando tudo parece muito fácil como sugere a vida em Araxá, corre-se o risco da perda de valores e da falta de mobilização e esforço coletivos. O individualismo anda na contramão da vida em sociedade, onde deve predominar o que é melhor para o conjunto e o direito de cada um está limitado ao do outro.
Outro contexto que deveria ser mudado é o do complexo do Barreiro, legalmente do Estado, mas moralmente de Araxá. O governo mineiro não tem dado a mínima para as necessidades da estância hidromineral, ao não ser no tocante ao seu interesse. Tudo lá continua improvisado, desordenado, descuidado e sem infraestrutura adequada, embora a vultosa arrecadação proporcionada pelo município aos cofres do Estado através da exploração mineral. Quem sabe com a mudança de governo que tanto assusta por aqui, ao ponto da cidade ter referendado esse descaso nas urnas, a realidade do complexo do Barreiro também comece a mudar.
Neste aniversário, que antecede o de 150 anos de emancipação dessa terra, que a perspectiva seja a de fazer jus ao hino de Araxá: “aqui tudo se faz melhor”.