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A passagem do tempo é objeto de inquietações do homem desde a antiguidade. Das sociedades pré-capitalistas, caracterizadas em sua imensa maioria pelo tempo do eterno retorno, à contemporaneidade - onde é impossível entendê-lo sem pensar em suas conexões com os meios de comunicação - as formas pelas quais o homem interage com o tempo sugerem uma infinidade de reflexões. Em diversas civilizações por exemplo, a percepção da passagem do tempo esteve intimamente ligada à observação das mudanças climáticas, sucedida por sua subdivisão em estações, permitindo um maior entendimento de nossa relação com a natureza.
Primavera, Verão, Outono e Inverno. A passagem das estações promovem mudanças significativas aos ecossistemas e nos homens, estimulam a emergência dos mais diversos sentimentos e afetos, assim como a necessidade de traduzi-los em arte. Antonio Vivaldi e Astor Piazzolla imprimiram leituras bem particulares a estes ciclos. Com regência do Maestro Rodrigo Toffolo e presença dos solistas Ricardo Amado (violino) e Hugo Pilger (violoncelo), a Orquestra Ouro Preto captura este universo no concerto Oito Estações, junção das “Quatro Estações” de Vivaldi e “Estações Portenhas” de Piazzolla. O trabalho foi registrado em formato duplo CD/DVD (este último, gravado nos salões do Tauá Grande Hotel Termas, em Araxá).
“Oito Estações” evidencia, por meio da música, diferentes formas pelas quais o homem experiencia a natureza. Se no passado barroco de Vivaldi, as estações do compositor italiano remetem a uma postura contemplativa do homem diante das transformações ocorridas na natureza, em Piazzolla a passagem dos quatro ciclos temporais condicionam mudanças na própria experiência humana, interferindo no temperamento, nos modos de agir e pensar do homem contemporâneo e de seu cotidiano marcado, cada vez mais, pela compressão do espaço-tempo. Todas estas características podem ser observadas na escuta de cada um dos movimentos de “Oito Estações”.
Texto: Saulo Rios