Editorial

Apagando o passado

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O centro histórico preservado é o principal atrativo das cidades turísticas em todo o mundo, seja em Madri na Espanha ou em Ouro Preto no Brasil. Porém, apesar da rica história da formação do território e da cidade de Araxá, esta memória se esvai ao não ser preservada e com as sucessivas intervenções na paisagem urbana sem critérios e impedimentos, acima de tudo por desconhecimento da sua importância e valor.

A cultura precisa ser sentida, vivenciada pela coletividade no decorrer dos tempos, assim como as referências passadas que influem no posicionamento individual. Comumente citam que “um povo sem memória não tem história nem futuro” porque sem conhecer o passado não compreende suas origens e perpetua erros que se reconhecidos seriam oportunidade de reparo e crescimento.

Pergunte sobre como estão sendo tratados os acervos histórico, arqueológico, antropológico, etnográfico e de história natural do município para constatar que vêm se perdendo de forma cada vez mais acelerada. Desde os registros da sua primeira ocupação por animais pré-históricos extintos há 11 mil anos, cujos fósseis antes expostos no Complexo do Barreiro foram levados para a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e por aqui esquecidos.

Depois, os primeiros humanos a habitar esse especial lugar foram os índios seguidos pelos negros também perseguidos e dizimados por colonizadores a partir de meados de 1700. Assim como os fósseis, existem registros dessa ocupação desde as mortuárias e outros artefatos indígenas, o Quilombo do Ambrósio que se tornou atrativo histórico cultural de Ibiá e dos fazendeiros que se estabeleceram próximos às águas salobras que engordavam o gado no chamado Barreiro marcando o fim do Século XVIII e início do XIX.

A urbanização desse território acontece pelos caminhos anteriormente trilhados em busca das águas de Araxá com a criação da freguesia em 1791, do julgado em 1811, da vila em 1831 e da sua emancipação como cidade em 1865. Em 2025, a cidade completa 160 anos com um centro histórico cada vez mais descaracterizado como fiel registro de todas essas épocas. E o agravante é a indefinida situação da Estância Hidromineral do Barreiro que além de obras carece de manutenção há anos.

Trinta anos depois da sua emancipação como cidade, Araxá apresentava pujante crescimento na região do centro histórico chamada de largo da matriz hoje denominada praça Cel. Adolpho em homenagem a um dos importantes líderes políticos da época. O sobrado que abrigou a Câmara Municipal adquirido em 1895 hoje abriga o Museu Legislativo, mas está fechado à espera de restauração.

Situação muito mais grave é a do sobrado pouco abaixo edificado por Dona Beja com escritura de compra e venda datada de 1864 e que depois abrigou a popular Pensão Tormin, mas está quase caindo enquanto o Ministério Público (MP) tenta impedir sua demolição com o seu tombamento pelo Estado. Outro importante histórico sobrado erguido à época do outro lado da praça e com uma das poucas áreas verdes restantes no Centro da cidade continua se deteriorando como uma “casa mal assombrada”, a demonstrar o “zelo” com o patrimônio histórico e ambiental.

A quase completa descaracterização da praça Cel. Adolpho que tinha sido revitalizada em meados dos anos 1980 com a restauração do prédio da antiga rodoviária e do ponto de taxi embaixo das sombras das árvores, além do mercado municipal, aconteceu a partir de meados de 2000.

Após a demolição do mercado municipal e prédio da antiga rodoviária, um teatro foi mal construído no local em cima de três minas d’água e está fechado há anos à espera de um especial projeto e muito recurso para ser recuperado. O incompleto projeto da nova praça também vem sendo mais descaracterizado no decorrer das últimas décadas com pergolado, plantio de grandes árvores e recentemente a construção de um banheiro público.

Além de estar perdendo a memória, não se constrói o futuro porque a atual rodoviária está inadequada, não foi construído um novo mercado de produtos da terra como possui a grande maioria das cidades turísticas para não falar das carências nas vias adjacentes à praça que também marcaram a ocupação urbana da cidade.

 

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